sexta-feira, 13 de março de 2009

Por onde começar?

Oi, pessoal!!!

Eu sei.. estou em dívida com vocês! Sumi do blog exatamente um ano!!! Que vergüenza (como diriam os espanhóis). rsrsrs.

Para me redimir tentarei resumidamente deixar vocês a par de todo esse tempo ausente.

Primeiro começarei comentando o meu momento atual!

Estou voltando ao PEAD no Seminário Integrador. Não mais no pólo de Alvorada, mas no de Gravataí. No entanto, tenho certeza que neste novo pólo terei diferentes e desafiantes experiências.

Bom... além de voltar ao PEAD, comecei uma formação em Psicanálise. Tem duração de 3 anos, 2 vezes por semana a noite, onde terei supervisão, seminário e encaminhamento de pacientes para o meu consultório particular.

Vocês podem imaginar como estou contente. Depois de passar 40 dias na praia, em S.C., “reclusa” de todos num mundo zen... rsrs... agora voltei com tudo para a minha reorganização profissional.

Cheguei de BCN no final de outubro e estava preocupada com minha readaptação. Os brasileiros que conheci no exterior davam a entender que eu teria a tal da crise da pertinência, pois não me sentiria bem como antes no meu próprio país (pois estranharia tudo), assim como, quando voltasse ao exterior, seguiria me sentindo uma estrangeira.. ou seja, não teria mais um lugar de identificação completa. Todos, sem exceção, comentavam isso. Sendo assim, já estava me preparando para o pior.

Na minha vida, sempre que penso que algo será HORRÍVEL, me preparo tanto psicologicamente que o acontecimento péssimo nunca acaba sendo péssimo. Nesse caso, não poderia ser diferente... minha readaptação foi melhor e mais rápida que imaginava. Não senti estranhamento, exceto nas três primeiras semanas, segui me identificando com grandes amigos e a minha relação com a família, inclusive, melhorou.

Obviamente há um impacto cultural! Os primeiros impactos se deram no aeroporto do RJ mesmo: ouvir pessoas falando só português, num tom de voz BEM elevado por sinal e perceber ausência de fila e ordem na hora de pegar as bagagens. Uma verdadeira muvuca!

Esses meses todos na Europa foram inenarráveis... realizei sonhos que jamais imaginava. Fui no show do Rod Stewart e Madonna (meus maiores ídolos), conheci 13 países e 26 cidades... quase todas as viagens fiz praticamente sozinha e deu para aprender muito com a “solidão”. O preço para realizar tudo isso foi bem alto... não foi nada fácil... trabalhei muito para isso e valeu muito a pena!

Barcelona é uma cidade liberal e conservadora ao mesmo tempo... cheia de vida e movimento, atrações culturais gratuitas, povo fechado e separatista e com muita, mas muita beleza. Todo dia me encantava... andava de bike horas e horas admirando a mistura do moderno e velho da cidade! Sem palavras...

Nunca tinha o que “não fazer”... cidade lotada de barzinhos, restaurantes, teatros, cinemas, praias, boates, cafés... primeira vez na vida considerei que dormir era uma perda de tempo.

Enquanto morava lá, trabalhei vendendo ingressos de uma peça de Flamenco... e esse trabalho era na rua.. como se fosse o centro da cidade: nas famosas ramblas de BCN. Eu tinha que ficar 7h30 em pé (com apenas 30 minutos de descanso) distribuindo flyer e persuadindo os turistas a comprar ingressos para a peça... até porque quanto mais eu vendia maior era a chance de atingir a comissão final.

Consegui atingir a meta todos os meses, mas foi difícil... muito pensamento positivo e paciência para agüentar determinados turistas, o frio, calor, dor nas pernas, cansaço... nunca pensei tanto no que eu queria para justamente ter forças para passar por tudo que passei.

Apesar de tudo isso, gostava desse trabalho... pelo salário e horário.. sendo das 9h às 16h30 conseguia assistir às aulas da pós e trabalhar em outros lugares, caso eu quisesse, nos outros dias livres.

Mas gostava do trabalho principalmente por ser na rua... BCN é conhecida como Barcelouca e isso já diz muito. Onde trabalhava talvez fosse a rua mais movimentada por turistas.. a cada minuto havia algo sinistro para observar.

Havia sempre o tal do "homem-xenofobia"... ele aparecia com cartazes insultando os turistas.. dependendo do grau do insulto os policiais o detinham; tinha a tal da máfia: os homens da bolinha... o turista tinha que apostar onde a bolinha estava, sendo que o jogo já estava pré-definido: o turista sempre perderia; havia também as romenas... um grupinho de mulheres que roubavam as carteiras dos turistas. Sentia muita pena e sensação de impotência ao ver o turista chorando ao perceber o roubo. Não podia fazer nada (afinal essas romenas boas coisas não são e eu trabalhava lá todos os dias... não podia me arriscar)... além do que até os policiais nada faziam... prendiam e soltavam elas todos os dias... lá tinha também muita corrupção... a polícia sempre pegava dinheiro dos caras da máfia: o que eles lucravam com a ingenuidade dos turistas tinha que ser repartido com os policiais.

Fora isso, tinham as famosas estátuas humanas... perceber uma pessoa parada na mesma posição por horas e horas era muito estranho. Como conseguiam, meu deus? Claro que isso dava muito dinheiro porque os turistas se entusiasmavam e pagavam para assistir às surpresas que estavam por vir. Sendo assim, começou uma proliferação de estátuas sem talentos no meio daquelas tantas que conseguiam fazer arte.

Então assim... esse trabalho rendeu e muito. Exercitei minha tolerância e tive, por meses, um laboratório humano para observar. rsrs.

Sinto saudade de Barcelona até hoje... dependendo dos dias, sonho com a cidade, mas não me imagino mais morando lá. Já a passeio, com certeza eu volto!

Mas vou admitir: nesse um ano que estive lá, apenas nos dois últimos pensei em voltar de vez para o Brasil. No início eu pensava “não volto mais a morar no Brasil.. só para visitar”.

Por que isso? Bom... porque lá tudo funciona (isso que não é uma Alemanha da vida que é os EUA da Europa); lá há outro modo de pensar e de viver.... lá a gente é mais uma na multidão, lá a gente anda na rua de noite, a qualquer hora, sem medo; lá há educação, civilização, cultura a cada esquina e possibilidade fácil de viagens!

Por tudo isso, a gente acaba querendo ficar lá, mesmo que tenhamos que lavar pratos e limpar chão para sobreviver... que, aliás, não é sobreviver: é viver! Porque o salário de um garçom dá para pagar as contas e se divertir! Grande diferença com o nosso Brasil...

No entanto, a vida não é feita só de prós e no primeiro mundo também há contras! Depois de realizar tudo que queria percebi que minha trajetória ali já não tinha mais o mesmo sentido. Ficar um ano lá para realizar uma pós e trabalhar fora da área para poder viajar é uma coisa... mas permanecer mais tempo, é outra.

Ficar fora do mercado não é fácil e os “desaforos” que se leva morando no exterior também não... isso não se pode negar: ainda existe o preconceito. Eles ainda não se conformaram que a gente também tem o direito de imigrar exatamente como eles fizeram no nosso país anos e anos atrás...

Digo isso, porque até eu percebi o preconceito mesmo sendo, esteticamente falando, julgada como sueca, alemã, russa... qualquer nacionalidade menos a brasileira. Percebi que um olho azul ajuda e muito, infelizmente... é triste perceber que a cor dos olhos vai definir a forma como a pessoa será tratada.

Além do preconceito existe sempre a questão do “ser estrangeira”... tem gente que não se importa, mas eu não gostaria de passar a vida sendo rotulada desta maneira. Ou seja... estas questões me levaram a voltar definitivamente para o Brasil! Além disso, tem a parte essencial: família e profissão (porque aqui, dependendo da situação e profissão, ainda assim temos melhores chances do que lá)!

Bom, pessoal... cheguei a cansar de tanto escrever! rsrsrs. Mas acho que consegui um pouquinho do planejado. Deu para vocês terem uma noção de como foi essa minha viagem e como a querida colega Guterrez comentou tentar “fazer com que vocês enxerguem a Espanha e outros países através do meu olhar”?

Beijo a todos e até mais!